Por 19 anos Taiu viveu afastado das ondas por conta de um caldo que o deixou tetraplégico
08.09.2010 | Texto por
Fotos Taiu estava há mais de uma hora surfando, mas queria pegar a última onda antes de sair da água. Quando viu uma série se aproximando, antecipou a remada e conseguiu entrar sozinho na onda. Estava em Paúba, litoral de São Paulo, e achava que ali surgiria o tubo que o deixaria satisfeito. Blackout. A sequência da cena some da memória de Taiu e só volta com ele já boiando no mar, imóvel, até ser resgatado por um amigo. Era novembro de 1991, e aquela onda de 0,5 m havia derrubado um dos principais nomes do surf brasileiro na época. O caldo deixou tetraplégico o big rider que estava acostumado a encarar as maiores ondas do mundo. “Os últimos passos que eu dei foram no caminho do meu carro até o mar. Na areia só ficaram as pegadas de ida. E as de volta?” Por 19 anos, essa era a imagem que Taiu tinha de sua última session de surf. Foram quase duas décadas sem sequer entrar no mar. Foram, mas não são mais. “Faz um mês que voltei a ser criança. Sinto que estava com a adrenalina anestesiada. Eu era um exilado, 19 anos em cana. E agora reconquistei o feeling.”
Já surfou hoje?
Falante, Taiu estava no meio de uma de suas histórias quando o telefone de seu apartamento tocou. Com uma espécie de grande palito na boca, que também usa para mexer no computador e para ligar a televisão, ele atendeu ao chamado do aparelho programado para funcionar em viva voz. “Oi, Taiu. Tudo bem, meu filho? E aí, já surfou hoje?” Era a mãe do surfista. Difícil acreditar que tal pergunta foi feita com tanta naturalidade a alguém que não movimenta nada dos ombros para baixo.
Sim, horas antes daquela ligação, Taiu havia surfado. Foram quatro ondas em pouco mais de uma hora. Ondas não muito grandes, mas que para Taiu são enormes, já que estão sempre acima de sua cabeça. E ele faz questão de dar todos os créditos ao big rider Jorge Pacelli e ao shaper Neco Carbone, amigos de infância que o acompanham na água e que ajudaram a projetar a prancha adaptada – um “barco” de 14 pés de tamanho e 40 polegadas de largura. “Já botei alguns nomes nela: cadeira prancha, tetrasurf...”, diverte-se. Um projeto que saiu do papel graças à produção do filme Aloha. Taiu foi convidado para participar do filme que fala sobre surf adaptado e, para isso, teve que colocar em prática sua antiga ideia de criar uma prancha para cadeirantes.
ele encara a cadeira de rodas com naturalidade, por muitos anos as coisas não foram assim. “Tinha aquela esperança das células-tronco. Eu pensava: ‘Não vou ficar assim paralisado’. Nos seis primeiros meses depois do acidente não queria nem saber de cadeira de rodas. Falavam pra eu comprar uma importada e eu dizia: ‘Importada é um caramba’. Não queria viver nesse mundo dos cadeirantes. Depois pensava: ‘Sou um merda. Não dou bola pros cadeirantes, mas sou um puta tetraplégico’. Pra aceitar isso foram mais de dez anos”, lembra.
Mas isso é passado. Agora Taiu está na expectativa da chegada de uma cadeira com tração nas quatro rodas pra se virar sozinho na areia. E, como ele mesmo diz, só não está bravo com o atraso da entrega porque só tem tempo pra pensar na próxima queda no mar. Para isso, ainda precisa da ajuda dos amigos. Como resume o surfista Sylvio Mancusi: “É como se fosse uma dupla de tow in, tem que acordar e ligar pro parceiro antes de ir pra água”. Taiu sabe disso, sabe das dependências. Mas tira tudo de letra. “Na verdade eu só estou sentado ali, né? Mas fiquei pensando: a ideia não é ser surfista de alma? Ser soul surfer? Eu sou um. Os caras estão levando minha alma pra surfar. Eu estou vivo, então vamo aí!”
Fonte:
http://revistatrip.uol.com.br
“Os últimos passos que eu dei foram no caminho do meu carro até o mar. Na areia só ficaram as pegadas de ida. E as de volta?”E reconquistou também hábitos de surfista. Voltou a consultar sites de previsão de ondas e passou a observar o mar da varanda do apartamento onde vive no Guarujá. “É a maior loucura olhar as ondas e dizer: ‘Hoje eu vou, malandro’.” Aos 47 anos, tem ido muitas vezes. Quando a Trip entrou no mar com Taiu para registrar sua volta ao outside, ele já colecionava sete caídas em um mês. É como se precisasse tirar o atraso de tantos anos parado. “Foram sete dias completamente diferentes. É uma coisa desafiadora. Estou no mar de novo! É a maior adrenalina estar no outside com a galera, ouvir a expectativa da chegada de uma série. Voltou a bater em mim aquela sensação de disputa por uma onda.”
Já surfou hoje?
Falante, Taiu estava no meio de uma de suas histórias quando o telefone de seu apartamento tocou. Com uma espécie de grande palito na boca, que também usa para mexer no computador e para ligar a televisão, ele atendeu ao chamado do aparelho programado para funcionar em viva voz. “Oi, Taiu. Tudo bem, meu filho? E aí, já surfou hoje?” Era a mãe do surfista. Difícil acreditar que tal pergunta foi feita com tanta naturalidade a alguém que não movimenta nada dos ombros para baixo.
Sílvia Winik
Taiu gargalha depois de deslizar numa onda
Sim, horas antes daquela ligação, Taiu havia surfado. Foram quatro ondas em pouco mais de uma hora. Ondas não muito grandes, mas que para Taiu são enormes, já que estão sempre acima de sua cabeça. E ele faz questão de dar todos os créditos ao big rider Jorge Pacelli e ao shaper Neco Carbone, amigos de infância que o acompanham na água e que ajudaram a projetar a prancha adaptada – um “barco” de 14 pés de tamanho e 40 polegadas de largura. “Já botei alguns nomes nela: cadeira prancha, tetrasurf...”, diverte-se. Um projeto que saiu do papel graças à produção do filme Aloha. Taiu foi convidado para participar do filme que fala sobre surf adaptado e, para isso, teve que colocar em prática sua antiga ideia de criar uma prancha para cadeirantes.
"Faz um mês que voltei a ser criança. Sinto que estava com a adrenalina anestesiada. Eu era um exilado, 19 anos em cana."Taiu nunca desistiu de voltar ao surf. Na entrevista a Trip, três anos após o acidente, ele já demonstrava essa expectativa. Por isso, sempre se cuidou esperando que um dia pudesse estar no outside de novo. “Nesse tempo todo, eu mantive a educação que o surf me deu”, diz. Ainda assim, o mais próximo que ele esteve do esporte nas últimas décadas foi para fazer locução de alguns campeonatos ou escrever textos para revistas. E, se hoje
Com o troféu de campeão brasileiro de 1984
Mas isso é passado. Agora Taiu está na expectativa da chegada de uma cadeira com tração nas quatro rodas pra se virar sozinho na areia. E, como ele mesmo diz, só não está bravo com o atraso da entrega porque só tem tempo pra pensar na próxima queda no mar. Para isso, ainda precisa da ajuda dos amigos. Como resume o surfista Sylvio Mancusi: “É como se fosse uma dupla de tow in, tem que acordar e ligar pro parceiro antes de ir pra água”. Taiu sabe disso, sabe das dependências. Mas tira tudo de letra. “Na verdade eu só estou sentado ali, né? Mas fiquei pensando: a ideia não é ser surfista de alma? Ser soul surfer? Eu sou um. Os caras estão levando minha alma pra surfar. Eu estou vivo, então vamo aí!”
Fonte:
http://revistatrip.uol.com.br